Ventos Variáveis.
Abril foi o mês que marcou a maior presença de ventos variáveis nos mercados este ano. Caracterizou-se por intensa movimentação, com mudanças significativas de direção nas bolsas, na renda fixa, nas expectativas de política monetária, nos dados econômicos e na geopolítica. Dada a complexidade dos acontecimentos, optamos por destacar de forma organizada os temas que mais nos chamaram a atenção.
Revisão do PIB Americano:
Ao final de abril, a divulgação do PIB do primeiro trimestre trouxe resultados abaixo das principais expectativas. Até então, o consenso apontava para um crescimento acima de 2,5%. No entanto, após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre no dia 25 de abril, observamos o ressurgimento de perspectiva mais pessimista com a economia, chamando atenção as menções ao cenário da estagflação ganhando mais espaço nas narrativas.
O PIB real desapontou crescendo apenas 1,6%em taxa anualizada durante o primeiro trimestre, um resultado inferior ao esperado, destacamos a influência negativa na redução do consumo, nas importações e no impacto negativo do aumento de estoques. De um ponto de vista empírico, os estoques e as importações não são tão pessimistas para a tendência de crescimento econômico.
Os estoques contribuíram negativamente com 35 pontos percentuais para o crescimento do PIB, enquanto a balança comercial teve um impacto negativo de 86 pontos. A queda de estoques pode sugerir um risco positivo para os próximos trimestres à medida que as empresas devem se reabastecer, lembrando que 2022 e 2023 foram anos de recorde em estoques e por isso as ordens de produção andavam em mínimas históricas.
A demanda doméstica final privada ficou ligeiramente abaixo das expectativas, mas não tanto quanto o resultado principal, crescendo 3,1%, sendo esta uma pequena redução em relação aos 3,3%do trimestre anterior. Dentro deste segmento, o consumo foi um pouco mais fraco, crescendo 2,5%, com uma desaceleração no consumo de bens e um aumento nos serviços, enquanto o investimento empresarial mostrou-se ligeiramente mais forte, crescendo 2,9%, assim como o investimento residencial, que apresentou um aumento expressivo de 13,9% depois de quedas consecutivas em períodos anteriores.
A economia mantém o nível de emprego acima do natural, e as importações emergem como um fator negativo para o PIB, mas positivo para a opinião de demanda. Contudo, é preocupante como o consumo tem se deteriorado lentamente.
Inflação, mercado e Fed:
Abril também foi marcado por surpresas no mercado. Observamos as bolsas recuando após um início de ano promissor, acompanhadas por um aumento nas taxas de juros para níveis mais elevados que nos últimos meses. Os ativos de renda fixa têm mostrado uma deterioração gradual desde o começo do ano.
O aumento de 0,4% no CPI geral em março, divulgado na metade do mês, praticamente encerrou as esperanças de que a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto em junho introduziria o primeiro corte na taxa de juros. O aumento de março superou as expectativas de um aumento de 0,3% e elevou a taxa anual de 3,2% para 3,5%, o maior valor desde setembro. Excluindo alimentos e energia, o CPI núcleo subiu 0,4% em março. O aumento manteve a taxa anual de CPI núcleo em 3,8%, a mesma de fevereiro. Usando uma média móvel anualizada de três meses, o CPI núcleo estava em 4,5% em março, o maior desde o início de 2023.
As expectativas para o Fed não cortar juros aumentaram para o maior valor observado desde o terceiro trimestre de 2023, lembrando que no final de 2023, essas expectativas estavam em torno de seis a sete cortes projetados nos derivativos futuros para o ano de 2024. Depois, ao longo de fevereiro e março, com a continuidade do emprego e a inflação acima da meta, caíram para apenas três, até então, supostamente, insuficiente para começar a “machucar os múltiplos” observados nas principais ações da bolsa. Finalmente, no mês de abril, as expectativas foram para apenas um corte, ou seja, uma mudança de 180 graus em relação ao que era discutido seis meses atrás, e começaram a impactar negativamente os múltiplos das ações na bolsa.
É interessante notar que o Fed tem adotado uma postura mais reativa em seu discurso ao dar pistas sobre política monetária. Acreditamos que essa abordagem é principalmente devido ao fato de ser um ano de eleição. O Fed tem enfatizado que precisa de evidências suficientemente convincentes para tomar qualquer medida de política monetária. Essa cautela parece ter dois motivos principais: primeiro, estar em linha comas precificações do mercado, medido através dos derivativos da CME, onde raramente o Fed não segue o que está precificado nos futuros. Em segundo lugar, o Fed parece preocupado com sua credibilidade e não quer dar margem para narrativas que sugiram que decisões de política monetária estejam sendo tomadas para beneficiar qualquer partido político.
Desempenho Corporativo e Ambiente de Mercado:
Os resultados das empresas no primeiro trimestre têm sido surpreendentes (tanto para o lado bom, quanto para o lado ruim), com ações importantes movimentando-se em duplos dígitos após as divulgações. Os investidores têm migrado para as ações de tecnologia, pois geralmente oferecem melhores perspectivas de crescimento. Segundo previsões de analistas compiladas pela FactSet, espera-se que o setor de tecnologia da informação aumente seus lucros em 20% no primeiro trimestre. As Magnificent Seven, sete maiores ações da bolsa americana, que mais que dobraram em média em 2023, representavam 29% do valor de mercado do S&P 500 no final de março, segundo a S&P Dow Jones Indices,a maior concentração em décadas.
Mais da metade dos entrevistados em uma pesquisa da BofA Securities com gestores de fundos na semana passada disseram que possuir ações das Magnificent Seven; era o trade mais lotado de Wall Street, muitos investidores percebem essa concentração como um sinal de limitado potencial de valorização futuro.
Tensões Geopolíticas e Impactos no Mercado:
O período entre 15 e 22 de abril foi extremamente conturbado, com vários problemas emergindo ao mesmo tempo. As tensões geopolíticas também foram um dos destaques negativos do mês, contribuindo para o pior dia do ano nos mercados. A situação no Oriente Médio continua a manter os analistas em alerta máximo. Após um ataque com mísseis ao consulado iraniano em Damasco, o Irã respondeu lançando uma série de mísseis e drones contra Israel, a grande maioria interceptada sem atingir os alvos. As próximas semanas e meses provavelmente continuarão tensas.
Além da inflação acima do esperado ter sido divulgada no dia 15, ocasionando na reprecificação das chances de diminuição de juros pelo Fed e causando volatilidade nas bolsas e na renda fixa a níveis não observados em mais de seis meses, também foi notável a alta do ouro para o topo histórico, impulsionada tanto pela demanda da China quanto pelas preocupações geopolíticas.
O S&P 500 e o Nasdaq perderam, no mesmo dia (15), pela primeira vez desde agosto de 2023, a média móvel de 50 dias, um indicador importante de tendência de curto-prazo na análise gráfica. Isso indica, ao menos no curto prazo, uma maior probabilidade de uma virada de tendência, a qual estava em uma tendência de alta por praticamente quatro meses seguidos.