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Update Macro: Março

4/3/2024

Revisando as Expectativas de 2024.

A perspectiva econômica dos EUA atualizada para o andamento do ano segue razoavelmente otimista, principalmente se comparada às perspectivas do início de 2023. Previsões de continuidade de crescimento seguem com maior probabilidade, embora a um ritmo mais lento nas estimativas. Acreditamos que as bolsas seguem precificando apenas a melhor parte do cenário e não os riscos (como compartilhamos na carta do mês anterior).

O consenso de análise levantado pela UBS em relatório do dia 21 de março discute uma desaceleração do PIB real em 2024, mas ainda em território positivo. A expectativa é que o crescimento ano a ano deverá ser em torno de 1% a 1,25%. Essa desaceleração tem como principais causas uma queda no investimento fixo das empresas, além de menos ajuda do orçamento governamental comparado a 2023, por último, os impactos de uma economia mundial gradativamente mais fraca. Espera-se também que os gastos dos consumidores continuem sendo uma parte importante da economia, ajudados pelo fato de pessoas com rendas mais altas terem um nível de poupança acima da média comparado com o resto da população.

Imagem de relatório da UBS de Março: riscos de recessão ainda elevados, mas não tanto como em 2023 de um lado, e, do outro, evolução de poupanças desde o primeiro trimestre de 2021, apenas os percentis de riqueza acima de 80% seguem com as poupanças aumentando em relação ao histórico.

Sobre Inflação e Política Monetária: As previsões do consenso sobre inflação do núcleo do PCE para 2024 foram alteradas para 2,3%, ligeiramente acima da estimativa anterior em torno de 2,1%. A opinião tanto da UBS quanto da Morgan Stanley sobre o caminho das decisões de política monetária nos parece similar à interpretação que o Fed deixou na última reunião do mês de março, todas convergindo em uma expectativa de queda de inflação apesar de um "caminho irregular" adiante.

O consenso ainda enxerga o primeiro corte de 25 pontos base na taxa do Fed Funds precificado para junho de 2024, a variação nos derivativos futuros é o que deverá ser resolvido adiante nos mercados. As perspectivas mantêm no radar mais dois a três cortes após o primeiro, apesar de menos cortes do que previamente precificado no final de 2023, o objetivo de alcançar uma faixa alvo de 4,50% a 4,75% até o final do ano segue liderando nos derivativos.

Esse afrouxamento cuidadoso pode nos ajudar a interpretar que o Federal Reserve está tentando encontrar um equilíbrio entre manter a inflação sob controle e ajudar a economia a continuar crescendo. A Morgan Stanley, também acredita que o primeiro corte da taxa acontecerá em junho de 2024, mas discute que evidências suficientes para mostrar que a inflação está em um caminho estável de volta à meta de 2% serão necessários para ajudar a estabilizar as perspectivas adiante.

Acreditamos que devido as incertezas do atual momento, a política monetária do Fed será menos diretiva e mais responsiva, ou seja, a dependência de dados futuros como consumo, ganhos pessoais, gastos pessoais, aumento ou não de salários e desemprego terão um peso marginal muito maior na volatilidade dessas expectativas versus as “pistas” que os membros do Fed derem através de reuniões e entrevistas.

Relatório da Moody’s de 14 de março indicando as dificuldades de previsões a respeito dos consumidores e como isso pode impactar os fundamentos da economia americana precificados para o ano.
Relatório da Moody’s de 14 de março discutindo as dificuldades de previsões, com expectativas de aumento de salários dos entrevistados abaixo dos padrões históricos que indicariam uma melhoria nos fundamentos de crescimento da economi americana.

Sobre a Dinâmica do Mercado de Trabalho: o consenso atualmente espera que desacelere um pouco, mas permaneça forte, e as taxas de desemprego devem subir de forma controlada.

Relatório da UBS de Março: do lado esquerdo, intenções de gastos corporativos seguem negativos e vão contra a tese de expansão econômica, do lado direito, componentes de expectativas de emprego também em território negativo.

Sobre Tendência sem Setores Específicos: A perspectiva mostra uma divisão na economia, enquanto os consumidores ainda seguem consumindo acima do esperado, especialmente aqueles com melhores rendas e nos gastos relacionados a serviços, no entanto, a parte corporativa está cada vez mais tímida nos investimentos. O esperado fim do suporte fiscal em 2023 adicionará aos problemas, além do já conhecido excesso de endividamento da maior parcela da população, principalmente em linhasde crédito e gastos de cartões de crédito (recorde).

Desaceleração dos Gastos com Bens: Há uma queda notável nos gastos com bens evidenciada no início de 2024. Espera-se que o consumo real de bens caia de um crescimento de 3,2% no quarto trimestre para 2,8% de crescimento no primeiro trimestre de 2024. A taxa de crescimento desacelerou de 4,9% no terceiro trimestre de 2023 e poderá desacelerar mais rapidamente dependendo da evolução do desemprego e da confiançado consumidor.

Relatório da UBS de Março: do lado esquedo, aumento de delinquência em pagamentos de cartão de crédito acima do pré-pandemia, do lado direito, renda divulgada em meses anteriores sendo continuamente revisada para baixo.
Dados do FRED: consumo pessoal com serviços segue acima da tendência desde 2007.
Levantamento da Morgan Stanley sobre vendas: perspectivas negativas para a maioria das subdivisões adiante.

Sobre os Riscos e Implicações de Política Monetária: O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) precisa encontrar o equilíbrio certo entre a necessidade de manter a estabilidade de preços e os riscos de uma desaceleração. O caminho dos gastos dos consumidores, que é afetado pelas taxas de poupança, condições de crédito e taxas de juros, acaba sendo um fator muito importante para descobrir o caminho geral da economia.

Perspectiva Futura: Existem alguns riscos que poderiam acontecer, como a inflação sendo maior do que o previsto ou mudanças na forma como o mercado de trabalho funciona, mas a perspectiva pede uma desaceleração que é gerenciada em vez de um forte declínio. O Federal Reserve está focando em fazer pequenas mudanças na política porque há muita imprevisibilidade no mundo agora. Isso significa que apolítica monetária precisa ser responsiva em vez de diretiva.

Especial Eleições

O ciclo de negócios tem um grande impacto no desempenho do mercado, e esse efeito é independente do partido político ou da ocupação da Casa Branca. Observando o passado, existem tendências claras em como a economia e os mercados funcionam, especialmente ao comparar anos de eleição com anos sem eleição. Desde 1942, os anos com eleição presidencial tiveram um crescimento real do PIB melhor do que os anos sem eleição em cerca de 0,24%. Isso mostra que existe uma ligação entre o desempenho da economia nos meses antes de uma eleição e o resultado da eleição. Por exemplo, um aumento de 5% no PIB pode sugerir um acréscimo de 6%dos votos, mostrando a importância das eleições para a economia.

Morgan Stanley sobre os retornos do S&P500 em anos de eleição.

Historicamente, os anos de eleição viram mercados de ações mais voláteis, especialmente durante a temporada de primárias, que vai de janeiro a junho. À medida que os resultados das eleições se tornam mais claros, essa volatilidade tende adiminuir. Isso torna o mercado mais estável na segunda metade do ano, que será influenciado pelas políticas do presidente eleito.

O Índice S&P 500 geralmente apresenta melhores resultados quando há menos dúvidas sobre uma eleição, o que não aparenta ser o caso até o momento. Isso é especialmente verdade nos meses antes da reta final da eleição. Os resultadosdas eleições também têm um efeito no desempenho dos setores, com diferentes padrões surgindo dependendo do partido vencedor. Os setores de tecnologia, bens de consumo discricionário e financeiro estão entre os mais afetados.

Morgan Stanley: Performance de setores de acordo com qual partido vence a eleição presidencial.

Os resultados de mercado e econômicos são influenciados pela composição do Congresso. A maneira como os partidos controlam os ramos legislativo e executivo tem um efeito direto nas direções das políticas e, como resultado, no desempenho do mercado. Principalmente no atual cenário onde o déficit fiscal se tornou uma questão importante para o mercado.

Morgan Stanley: Expansão de déficit fiscal por políticas esperadas de cada partido no legislativo. A importância do legislativo para este tipo de expectativa é crucial também.

O ciclo eleitoral também afeta os mercados de títulos. Por exemplo, os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA mudam muito em torno dos tempos de eleição, o que mostra a sensibilidade dos investidores às expectativas e resultados de políticas. O dólar americano também se comporta de maneira especial durante os anos eleitorais. Ele altera sua força e volatilidade, o que é uma medida de como os investidores reagem às mudanças na política fiscal e à incerteza que acompanha uma eleição.

Estimativas de pautas políticas para cada cenário da casa branca e do legislativo.