Soft Landing ou Recessão: afinal, o que esperar adiante?
A principal atribuição ao instinto otimista que predominou no mês de novembro veio após a queda das taxas de juros que haviam atingido patamares historicamente altos no mês de outubro. Uma importante razão por trás da queda das taxas de juros para os títulos com vencimentos mais longos, foi um anúncio de leilões de títulos do Tesouro Americano menor que o esperado pelo mercado. Com menor colocação de dívidas longas no radar, a pressão tanto vendedora, quanto pessimista com o déficit fiscal deu lugar a um alívio, e, este alívio encaminhou maior tranquilidade para as demais classes de ativos de risco em conjunto, ou seja, as classes de ativos em geral se moveram em conjunto para patamares positivos.
Nos três primeiros dias de novembro, a taxa de 10 anos do Tesouro Americano, a qual havia terminado outubro em 5%, retrocedeu para aproximadamente 4,55%, o movimento marginal de quase 10% iniciou uma recuperação nas bolsas. Além disso, dados de inflação e de crescimento de salários abaixo do esperado deixaram o Federal Reserve (Fed) confortável para manter as taxas de juros estáveis mais uma vez, e, com isso mudar “ligeiramente” o tom.
Durante a reunião do Federal Reserve (Fed) de novembro, as principais conclusões retiradas foram:
- Taxa de juros mantida em 5.25% - 5.50% (pela segunda vez consecutiva);
- Crescimento econômico mencionado “forte”, mas as mudanças nas condições de crédito e financeiras provavelmente pesarão na economia adiante.
- Na opinião do Fed, é um ambiente que requer paciência e cuidado nas decisões adiante;
Além disso, o presidente do banco central, Jerome Powell, mencionou otimismo com o progresso na manutenção do atual nível de emprego, em paralelo ao ritmo de redução do aumento de salários e inflação. Ele acrescentou que não tem certeza, mas que existe a possibilidade de uma deterioração nas condições do mercado de trabalho e no ritmo de crescimento econômico em prol da estabilidade financeira.
O mercado seguiu no mês de novembro buscando pistas para entender as ações do Fed para 2024. No último dia de novembro, um dos melhores meses de resultados das bolsas e dos bonds dos últimos 20 anos, Powell disse que novos aumentos de juros não estão descartados para o ano que vem. Na nossa opinião, parece que no curto-prazo a precificação de Soft Landing (aterrisagem suave da economia) aumenta em hipótese quando o mercado assume que a continuidade de aumentos de juros do Fed é baixa junto com a inflação. Isso afeta o preço dos ativos de forma positiva.
Como consequência dessa empolgação, o Fed volta a adotar um tom mais duro (hawkish), indicando um possível aumento de juros. O mesmo ocorre em eventos opostos, ou então em meses que os leilões de dívidas de vencimentos longos do Tesouro Americano não são absorvidos pelo mercado, causando, portanto, alta de juros e derrubando os valuations da bolsa e voltando a puxar uma narrativa de fim de ciclo com destino à recessão ou crise de crédito.
A conclusão para o desfecho deste longo e confuso ciclo pós-pandemia virá da continuidade da tendência de crescimento em dados econômicos, na estabilidade do mercado de trabalho, na continuidade do consumo, na manutenção da inflação sob controle (principalmente nos salários). E com maior importância para 2024, na crença que a capacidade de refinanciamento de dívidas corporativas e imobiliárias sob o atual contexto de alta de taxas de juros por possivelmente mais tempo seja pacífica.
Historicamente, a correlação entre o mercado de renda-fixa de ações é negativa, mas desde o final de 2021, essa correlação tem se mantido positiva. As expectativas do que será feito pelo Fed guiam as duas classes de ativos ao mesmo tempo e nas mesmas direções, o que é ruim para portfólios 60-40 e similares.
Existem exceções, entretanto, como em períodos nos quais os dados econômicos enfraqueceram tão rapidamente que o mercado acreditou em recessão, como no final de 2022. Ou em períodos de crescimento econômico acima do esperado, que o mercado acreditou em manutenção de taxas de juros altas por mais tempo, como no 2º trimestre de 2023.
Nesses intervalos, quando a inflação não está aumentando, a economia não está se deteriorando, o Fed não está adotando uma postura mais agressiva em relação a aumentos de juros e quando os leilões de dívidas não surpreendem o mercado negativamente, sobra apenas a narrativa do Soft Landing, a qual consiste em uma miragem, principalmente do ponto de vista histórico. Foi nesse tom que terminamos o mês de novembro.
Nos cabe aguardar o que virá na nova rodada de dados econômicos de dezembro, junto ao comportamento do mercado de renda-fixa em dias de leilões, e se isso influenciará o Fed a adotar uma postura mais agressiva ou não na narrativa, principalmente se as bolsas atingirem novos recordes.