No início de novembro, logo após as eleições, observou-se uma onda de euforia no mercado, seguida rapidamente por uma febre em várias classes de ativos. Enquanto as criptomoedas ganharam popularidade e os volumes de negociação cresceram, o mercado de ações, especialmente no segmento de empresas menores, registrou um aumento na atividade especulativa. Esses movimentos refletem o tipo de ambiente que frequentemente incentiva a tomada de riscos imprudentes. Até mesmo investidores conservadores podem ser atraídos para investimentos especulativos, à medida que novos produtos financeiros, muitas vezes pouco compreendidos, inundam o mercado.
Diante dessas mudanças, é essencial agir com cautela, baseando as decisões de investimento em um julgamento sólido e em uma análise aprofundada dos riscos envolvidos.
Volta da Exuberância
Após as eleições, os investidores experimentaram uma onda de entusiasmo que impulsionou as compras de ações com uma energia notável. Até o final da quarta-feira, 13 de novembro, uma semana após as eleições, impressionantes US$ 9,2 bilhões em ações foram negociados, marcando um dos maiores volumes de compra dos últimos anos. Para efeito de comparação, este é o maior pico de negociação no varejo desde março de 2022, superando em mais de três vezes a média dos últimos 12 meses.
Essa onda de investimentos foi distribuída de forma equilibrada. Enquanto US$ 4 bilhões foram direcionados para ações de empresas individuais, cerca de US$ 5,2 bilhões fluíram para ETFs. Produtos focados em Bitcoin também se destacaram, refletindo o renovado interesse dos investidores em criptomoedas após os resultados eleitorais.
Este movimento destaca como eventos políticos e o sentimento de mercado podem influenciar o comportamento dos investidores, trazendo novos focos de atenção em um cenário de constantes mudanças.
Dados de mercado relevantes:
Os números indicam que os investidores estão pagando um prêmio em relação aos padrões históricos.
Adicionalmente:
Essa concentração, somada ao P/L ajustado pela inflação (Shiller), que está em níveis historicamente altos, sugere potenciais desafios futuros em termos de retornos.
O consenso dos analistas projetam um crescimento de lucros de longo prazo para o S&P 500 entre 12% e 14%, embora as estimativas variem dependendo da fonte. Esse crescimento esperado poderá ou não sustentar as avaliações atuais, basta as empresas cumprirem essas previsões otimistas para justificar os elevados múltiplos de P/L.
Em escala global, as ações dos EUA mantêm uma posição dominante, representando cerca de dois terços dos índices de ações globais, enquanto a economia dos EUA contribui com aproximadamente 25% do PIB mundial. Essa representação desproporcional destaca a preferência por ativos dos EUA, apesar de suas avaliações permanecerem elevadas em relação aos padrões históricos.
Enquanto essas dinâmicas de mercado se desenrolam, o cenário econômico mais amplo pinta um quadro menos otimista. A maioria dos indicadores líderes e cíclicos, incluindo aqueles relacionados à manufatura e ao mercado imobiliário, continuam apontando para uma trajetória de queda. Não obstante, o Federal Reserve o qual tem adotado uma postura de flexibilização da política monetária, sugerindo crescentes preocupações com as condições econômicas subjacentes e fornecendo um certo grau de suporte aos mercados no curto prazo, começa vagarosamente a ter sua política monetária atual questionada.
Os investidores enfrentam um ambiente onde avaliações de mercado elevadas coexistem com fundamentos econômicos discutíveis, exigindo uma abordagem disciplinada e cautelosa para navegar pelas incertezas que estão por vir.
Sobre as Eleições
À medida que novas políticas começam a tomar forma após as recentes eleições, os investidores enfrentam forças opostas de otimismo e incerteza. Algumas propostas têm o potencial de impulsionar o crescimento econômico, enquanto outras podem representar riscos significativos para a economia como um todo.
A possibilidade de cortes de impostos é uma das perspectivas mais promissoras, com potencial para estimular a atividade econômica e aumentar os lucros corporativos. A redução de impostos pode elevar a renda disponível dos consumidores e proporcionar às empresas mais capital para investimentos, criando um ambiente favorável ao crescimento.
Por outro lado, outras medidas propostas trazem desafios relevantes. Embora o objetivo de cortes nos gastos públicos seja a redução dos déficits, tal política pode levar a uma contração econômica. Reduções significativas nos gastos governamentais, que compõem uma parcela importante do PIB, podem desacelerar o crescimento ou até precipitar uma recessão. Essa dinâmica ressalta o delicado equilíbrio que os formuladores de políticas precisam buscar entre disciplina fiscal e estabilidade econômica.
A questão das tarifas comerciais adiciona outra camada de incerteza. Embora os detalhes ainda sejam escassos, novas restrições comerciais ou aumentos tarifários poderiam agravar cenários já complexos, especialmente para setores dependentes de cadeias de suprimentos internacionais. Tarifas elevadas têm o potencial de enfraquecer o ímpeto econômico, aumentando custos para consumidores e empresas.
É importante notar que os preços atuais dos ativos já podem refletir parte dos benefícios esperados de medidas econômicas consideradas positivas, como cortes de impostos. Grande parte desse otimismo provavelmente já foi precificada pelos mercados, que avaliam com base em expectativas futuras. No entanto, a implementação de aspectos mais controversos da agenda política pode introduzir incertezas adicionais devido a desafios políticos e custos associados.
A complexidade do processo legislativo também torna as previsões mais difíceis. As incertezas associadas às negociações e à oposição de diferentes partes interessadas podem atrasar a implementação ou modificar o escopo das propostas. Esse cenário adiciona mais camadas de complexidade para investidores que tentam antecipar o ambiente de mercado e econômico no próximo ano.
A interação desses fatores evidencia o desafio de realizar previsões precisas à medida que avançamos. Enquanto algumas iniciativas podem estimular a economia no curto prazo, outras podem limitar o crescimento, resultando em um panorama misto para 2025.