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Update Macro: Outubro

11/3/2023

Mudança de Narrativa observada nomês de outubro

Ao longo do terceiro trimestre de 2023, a narrativa predominante observada que deu suporte ao ralí de recuperação do então Bear Market iniciado no final de 2022 foi concentrada no “sucesso” do Fed em derrotar a inflação, a qual caiu de aproximadamente 8,5% para aproximadamente 3,5%, e recentemente com o aumento do petróleo voltou para 3,7% (utilizando a variação anualizada do CPI) e, com isso, o mercado considerou maior a probabilidade para 2024 do chamado “soft landing”, ou, aterrisagem suave, o que seria considerado um sucesso pois o BC seria capaz de reduzir o ritmo da inflação sem aumentar o desemprego e causar uma recessão.

O fim de setembro também terminou com a vitória parcial do “higher for longer” (expectativas de taxas de juros mais altas e por mais tempo devido a uma economia robusta), e,com chances de mais uma ou duas subidas de juros entre novembro e dezembro, até então com 71% de apoio dos membros do comitê.

Variação anualizada do CPI. Source: WSJ.

Agora que terminamos o mês de outubro, mês onde se iniciaram as apresentações de resultados das empresas, ou, “earnings season”, o “bull case” atual migrou o foco para uma possível aceleração de crescimento de lucros. Neste caso hipotético, caso o “soft landing” e a aceleração de lucros se comprovassem, poderíamos comparar o atual cenário com um contexto de “meio de ciclo” e com isso, o “higher for longer” se manteria como o principal argumento no bond market. Entretanto, o que observamos nas últimas semanas do mês foi em direção oposta, e, portanto, a narrativa que guiou o mercado por metade deste ano aparentemente saiu de cena. Entre setembro e o fim de outubro, o índice S&P500 caiu em torno de 8%, e o número de ações acima da média móvel de 200 dias, importante indicador de tendência, caiu para 27%, a menor quantidade desde a correção do ano passado quando o mesmo indicador bateu 12%.

Pode se tratar de oportunidade de alocação de curto-prazo, ou o início de uma nova tendência em nossa opinião. O comportamento dos juros longos será responsável pela movimentação das demais classes de ativos em nossa opinião, e, provavelmente até o início do primeiro trimestre de 2024, salvo exceção de ocorrer algum evento de crédito inesperado na economia global. O principal driver das altas de juros em nossa opinião não foram dados econômicos e sim alta quantidade de leilões de títulos longos.

Seguimos céticos quanto a probabilidade do crescimento dos lucros nas ações para os próximos seis a doze meses aumentarem em mais de 10% para o índice S&P500, como aparenta atualmente estar precificado no consenso, não acreditamos que estamos no meio de um ciclo, e sim no final de um dos mais longos e complexos ciclos doatual século.

O aumento de salários observado nos últimos 18 meses, apesar de em queda desde o topo em Agosto de 2022, ainda segue alto, e dessa vez acima da inflação por volta de 1,5%. Talvez, devido as greves dos sindicatos, como o da UAW mais recentemente, acompanhados de suposta leniência do governo americano, somado ao que inicialmente era um excesso de estoque histórico em 2022, o qual foi absorvido ao longo doano de 2023 (e considerado um ponto positivo no período mencionado onde o consumidor “seguiu firme”), custarão sobre as margens operacionais das empresas, sendo esta uma expectativa nossa em relação as otimistas para os próximos trimestres de crescimentos de lucro das empresas.

Com isso, e, se de fato o Fed mantiver o que fez nas últimas duas reuniões e não alterar mais os juros (para cima), assumindo uma postura de curto-prazo de “vitória sobre a inflação”, então, necessariamente, os múltiplos (como por exemplo Preço/ Lucro) atuais dos principais índices devem continuar a cair ou se manter nos patamares medianos pós-correção de outubro (para respeitarem a relação com os juros reais, inclusive). O oposto disso e que justificaria o “meio de ciclo” seria se os lucros das empresas comprovassem o otimismo.

Comparativo entre o prêmio de termo em um tesouro americano (laranja) com o Preço sobre lucro do S&P500 em percentil (azul). Usualmente, em ocasiões onde o prêmio de termo sobe rapidamente como observado em 2023, o preço sobre lucro se recolhe a níveis inferiores.

Assumindo que as projeções de aumento de lucro de 2% para 2023 e 5% para 2024 se materializem, além de entregar um crescimento anualizado de 12% no fim de 2024, constituiria o recorde nominal de lucros pro S&P500 (250 dólares por ação).

Dentro de um contexto onde para conter a inflação a única solução tem sido destruir a demanda, reduzir a disponibilidade de crédito e contrair a oferta de dinheiro, seria muito improvável que o mesmo não fosse acompanhado de margem operacional negativa, e, portanto, não fazem sentido as expectativas dessas projeções de lucros do mercado em nossa opinião.

Sobre os múltiplos e o contexto histórico. Source: Morgan Stanley